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Viagem a Auschwitz
Viagem a Auschwitz

A 20 de maio de 1940, foi inaugurada a cerca da carnificina.

À entrada, o slogan artificioso - «Arbeit macht frei» - O trabalho liberta.

Cinismo, crueldade, escravatura, fome, ganância, gozo, humilhação, ódio, prepotência, racismo, selvajaria e morte. Tudo isto fazia parte do dia-a-dia da cerca da carnificina, uma pequena cidade em Cracóvia, o quadro mais macabro da II Guerra Mundial.

No campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, morreram entre um milhão a milhão e meio de pessoas (homens, mulheres e crianças).

Composto por três campos principais e mais outros trinta, era comandado pelas SS, com Heinrich Him no comando, seguindo-se Rudolf Höss, Artur Leibehenschel e Richard Baer. Rudolf Höss deu uma descrição detalhada do funcionamento da cerca durante o seu interrogatório, no final da II Guerra Mundial. Este foi executado em 1947, em frente à entrada do forno crematório de Auschwitz I.

O povo judeu que tinha no seu passado um assombroso histórico de martírios, banimentos,  expulsões, escravizações, rebeliões sufocadas a ferro e fogo, em Auschwitz, viveram um espetáculo horrroroso inimaginável.

Os prisioneiros chegavam em vagões super lotados, sem água, comida e qualquer tipo de higiene, como se fossem animais selvagens. Chegavam aos 200 de cada vez. Separados por idade e sexo, eram dirigidos a filas que, discriminadamente, os selecionava por serventia. Homossexuais, deficientes, doentes e crianças de orfanato eram levados de imediato para o muro de execução e, pouco mais tarde, para o banho da morte. Assim aconteceu com o diretor de um orfanato, Janusz Korczak, por se recusar a abandonar as suas crianças. Os que sobreviviam, passavam pelo barracão da numeração. Nus, cravavam-lhes um carimbo de ferro e tinta por cima para ocultar a ferida. Eram endrominados com promessas que não pretendiam cumprir para lhes tirarem todos os seus pertences (roupa, calçado, óculos, próteses, jóias, dentes de ouro e outros), rapavam todas as cabeças sem exceção e davam uma farda de riscas azuis e um calçado velho, fosse ele pequeno ou grande. Para dormir, não havia pijamas - usavam a mesma farda para tudo - e um paupérrimo colchão, enchido com o cabelo rapado aos prisioneiros que em pouco tempo ficavam repletos de piolhos. Para os nazis tudo era reutilizável, até os óculos e as próteses rumavam à Alemanha para servir os soldados feridos.

Na cerca, os prisioneiros eram domados como animais de circo para manter a ordem, quem desrespeitasse as regras, era fuzilado com mais nove pessoas como lição. Outros, eram levados para os “quarteirões da morte” – submetidos a torturas e a julgamentos sumários antes do fuzilamento. Muitas vezes, eram acordados às 5 da manhã com gritos e violência, depois saíam dos barracões e aguardavam ao frio e em pé, a hora de rumar aos trabalhos pesados. Chegada a hora, já cansados, davam-lhes uma tigela de sopa de batata e erva (o que lhes provocava diarreia crónica), um pedaço de pão duro e outro de salsicha. Quando davam um pedaço de carne, esta era de animais doentes. A tijela onde comiam era guardada como se fosse uma relíquia, quem a partisse ou deixasse roubar não tinha direito a comer. E, ao som de música de marcha, tocada por uma orquestra para que o ambiente se tornasse sereno, sem pánico e rebelião, seguiam para mais um árduo dia. Muitos deles, não regressavam.

Nos barracões, inicialmente destinados à cavalaria, os prisioneiros dormiam de lado por falta de espaço, como uma coelheira. Cerca de 500 pessoas dormiam sem agasalhos e na imúndice – febre, vomitado, fezes, mortos já em decomposição a serem comidos pelos ratos, ratazanas e vermes. Curiosamente, o barracão que albergava as latrinas (para 200 pessoas de cada vez), era o mais  desejado. Além do trabalho ser feito com as mãos e a probabilidade de contrair doenças ser maior, tinham umas horas de liberdade – ali os soldados nazis não entravam com receio de serem contagiados.

Em Agosto de 1941, como a higiene não existia ali, prometiam que iam ao banho. Nus, com alguma esperança, 800 pessoas eram atacadas com gás venenoso - o Zyklon. Sufocados após crises convulsivas, sangravam e perdiam funções fisiológicas. A morte era dolorosa e demorava 20 minutos. Inocentemente, rumavam ao subterrâneo  para o banho da morte.

De 5 a 7 mil crianças alemãs foram exterminadas, vítimas do programa “eutanásia”, represália aos partisans. As poucas que sobreviveram foram levadas para o campo de trânsito e submetidas a condições animalescas. Um dos casos aconteceu com Anne Frank e a sua irmã, em Bergen-Belsen. De origem Judaica, Anne escreveu o diário que se transformou em livro. Relata a sua vida e da família desde o esconderijo em Amesterdão na tentativa de não serem capturados. Morreu a 12 de março de 1945 com 15 anos, nesse mesmo campo e vítima de febre tífoide.

Outro acontecimento transformado em livro foi o do polaco Maximiliano Kolbe, padre franciscano missionário, condenado ao “bunker da morte” por se ter oferecido a morrer no lugar de um chefe de família. Juntamente com mais 9 pessoas,  nus, permaneceram no subterrâneo sem comida e bebida. Converteram o bunker numa capela de oração e cânticos. Com vozes cada vez mais débeis, ao fim de três semanas apenas quatro rezavam. Os nazis aplicaram-lhes uma injeção letal de ácido muriático por acharem que a situação se prolongava.

Em 2013, quando visitei a cerca da carnificina, fiquei mais fria que um iceberg. Ler é uma coisa e ver é outra completamente diferente. O cheiro horrendo dentro dos barracões permanecia, fora, o cheiro intenso dos carris. Parecia que tudo estava ativo. Com grande dificuldade, a guia mostrou-nos as valas onde sepultavam pessoas em massa, algumas delas ainda vivas.

Imagens e fotos eram a prova daquela cerca, tiradas via aérea pelos americanos e russos. Mesmo assim, a  cerca da carnificina foi um facto verídico da história Mundial. Parafraseando Leonardo da Vinci, quem não castiga o mal, ordena que ele se faça.

Na minha modesta opinião, toda a gente devia visitar um dos campos de concentração nazi. Certamente teríamos um mundo melhor e mais justo.

Num futuro próximo partilharei testes e experências feitas pelo “Anjo da Morte”, a sangue frio, sem qualquer anastesia ou algo que se parecesse.