Criar um Site Grátis Fantástico


Total de visitas: 4168
A despedida é cruel
A despedida é cruel

Por ordem de partidas...

 

Ao meu avô materno:

meu avô Raúl que tanto amei

pelo mar vida agreste levou

mas foi na terra que tantas vezes o esperei

onde a vida perdeu e me abandonou

fui a neta mais querida e mimada

com todo o seu carinho e amor

tratada que nem boneca de porcelana

adorava a sua companhia e humor

viajou por terras que nunca conheci

algumas por portugueses descobertas

conhecedor de várias culturas

homem culto e de ideias abertas

foste um dos homens da minha vida

por ti ainda choro de saudade

eternamente guardar-te-ei no coração

serás sempre o meu mealheiro de amizade

 

À minha avó materna:

avó é uma fada...

com rugas definidas, traços dos caminhos agrestes que percorreu

com olhos cansados, das noites em claro a costurar

com boca calada, de tantas vezes o terço rezar 

com cabelos brancos, pintados com a tinta da amargura de uma época oca

com seios secos, de muitos filhos amamentar

com ombros derreados, das trouxas de roupa no rio lavar

com braços consumidos, de tanto pão amassar

com mãos ásperas, do trabalho árduo na horta para os filhos alimentar

com lágrimas escaldantes, do vulcão de mágoas que um bondoso coração pode suportar

 

avó é uma fada sem varinha de condão

de alma destroçada a cada anoitecer

de semblante robusto a cada batalha

santa até depois de morrer

 

Minha fada:

 

ó minha avó tão querida

que partiste sem eu contar

mulher de vida sofrida

tantas histórias tuas tenho para contar

senhora repleta de humildade

e por todos acarinhada

mulher de tamanha fragilidade

e coragem de suportar vida tão atribulada

as tuas rugas eram a sabedoria

de sobreviver a momentos de aflição

concedeste ao mundo tanta cria

cada um com diferente coração

mulher culta que todos admiravam

sabia ler e poesia salutar

os livros do poeta carpinteiro encantavam

o ícone da freguesia de Vilar

por senhora Albina era conhecida

a dona do limpo avental

sempre modesta e penteada

adorava ir ao café ler o jornal

por minha Mãe ao mundo conceberes

obrigada do fundo do coração

um dos meus maiores prazeres

foi conhecer duas mulheres de oração

minha Avó minha querida

eternamente chorarei tua morte

tiveste o destino de Virgem Maria

mas merecias melhor sorte 

 

Ao meu vizinho e amigo do coração:

Sérgio, meu amigo eterno,

injustamente cedo partiste!

Foi como punhal nas costas,

momento da vida tão triste.

Vejo-te no semblante da tua rainha,

e onde aparcavas o carro até então.

tua Mãe Fátima tal como Virgem Maria,

por ti chora a cada oração!

 

À minha cunhada:

Não sei como nem porquê,

Emília, minha linda cunhada,

o que havia de acontecer

partires sem me dizer nada.

Foste prisioneira do teu querer,

da família te afastaste.

Perdão pela minha incompreensão,

muita saudade me deixaste.

Nas dunas da nossa praia

as gaivotas choram de pesar,

as estrelas do céu espelham

no mar, teu lindo olhar.

 

À minha sogra:

Rosa é teu nome,

minha Mãe por afinidade.

Sete filhos ao mundo puseste,

mulher sofrida pela bondade.

Presenteaste-nos com teu belo sorriso,

no casamento da tua neta afilhada,

como despedida do teu legado,

Mãe, sogra e avó muito amada.

Deste-me o melhor de ti,

tenho-te incondicional gratidão.

Fernando, teu filho mais novo

é dono do meu coração.

Que teus filhos continuassem unidos,

era o teu maior querer,

por mim, continuará sempre assim

como homenagem à dócil mulher!

 

Ao meu sogro:

Homem com idade de menino

a árduas tarefas cedo obrigaram

em tempos de grande miséria

sem pai seus anos passaram

apaixonado pela sua santa mulher

as bodas de ouro festejou

nunca vi tristeza tão grande

quando a sua Rosa murchou

conquistava uma batalha por hora

mas pelo excessivo cansaço sucumbiu

agora longe dos nossos olhos

nos nossos corações desde que partiu

 

Ao meu Padrinho Joaquim:

trabalhaste arduamente no teu país, mas

era pouco e, em dobro trabalhaste na França

com tempo para dar colo aos três rebentos

desejaste uma reforma coroada de bonança

deparaste com muitas pedras na tua caminhada

e todas elas arrecadaste, grandes e pequenas

uma a uma construíste um bonito império

com a força dos gladiadores nas arenas

a infelicidade à tua reforma bateu sem consentimento

como Cristo no seu Calvário sucumbiste

de coroa de espinhos nos deixaste

na eternidade de dias tão tristes

de alma e coração amaste a minha madrinha

homem que a Deus honraste solenemente

os cravos são os teus anjos no paraíso

os brancos, de amor puro, intrinsecamente