Por ordem de partidas...
Ao meu avô materno:
meu avô Raúl que tanto amei
pelo mar vida agreste levou
mas foi na terra que tantas vezes o esperei
onde a vida perdeu e me abandonou
fui a neta mais querida e mimada
com todo o seu carinho e amor
tratada que nem boneca de porcelana
adorava a sua companhia e humor
viajou por terras que nunca conheci
algumas por portugueses descobertas
conhecedor de várias culturas
homem culto e de ideias abertas
foste um dos homens da minha vida
por ti ainda choro de saudade
eternamente guardar-te-ei no coração
serás sempre o meu mealheiro de amizade
À minha avó materna:
avó é uma fada...
com rugas definidas, traços dos caminhos agrestes que percorreu
com olhos cansados, das noites em claro a costurar
com boca calada, de tantas vezes o terço rezar
com cabelos brancos, pintados com a tinta da amargura de uma época oca
com seios secos, de muitos filhos amamentar
com ombros derreados, das trouxas de roupa no rio lavar
com braços consumidos, de tanto pão amassar
com mãos ásperas, do trabalho árduo na horta para os filhos alimentar
com lágrimas escaldantes, do vulcão de mágoas que um bondoso coração pode suportar
avó é uma fada sem varinha de condão
de alma destroçada a cada anoitecer
de semblante robusto a cada batalha
santa até depois de morrer
Minha fada:
ó minha avó tão querida
que partiste sem eu contar
mulher de vida sofrida
tantas histórias tuas tenho para contar
senhora repleta de humildade
e por todos acarinhada
mulher de tamanha fragilidade
e coragem de suportar vida tão atribulada
as tuas rugas eram a sabedoria
de sobreviver a momentos de aflição
concedeste ao mundo tanta cria
cada um com diferente coração
mulher culta que todos admiravam
sabia ler e poesia salutar
os livros do poeta carpinteiro encantavam
o ícone da freguesia de Vilar
por senhora Albina era conhecida
a dona do limpo avental
sempre modesta e penteada
adorava ir ao café ler o jornal
por minha Mãe ao mundo conceberes
obrigada do fundo do coração
um dos meus maiores prazeres
foi conhecer duas mulheres de oração
minha Avó minha querida
eternamente chorarei tua morte
tiveste o destino de Virgem Maria
mas merecias melhor sorte
Ao meu vizinho e amigo do coração:
Sérgio, meu amigo eterno,
injustamente cedo partiste!
Foi como punhal nas costas,
momento da vida tão triste.
Vejo-te no semblante da tua rainha,
e onde aparcavas o carro até então.
tua Mãe Fátima tal como Virgem Maria,
por ti chora a cada oração!
À minha cunhada:
Não sei como nem porquê,
Emília, minha linda cunhada,
o que havia de acontecer
partires sem me dizer nada.
Foste prisioneira do teu querer,
da família te afastaste.
Perdão pela minha incompreensão,
muita saudade me deixaste.
Nas dunas da nossa praia
as gaivotas choram de pesar,
as estrelas do céu espelham
no mar, teu lindo olhar.
À minha sogra:
Rosa é teu nome,
minha Mãe por afinidade.
Sete filhos ao mundo puseste,
mulher sofrida pela bondade.
Presenteaste-nos com teu belo sorriso,
no casamento da tua neta afilhada,
como despedida do teu legado,
Mãe, sogra e avó muito amada.
Deste-me o melhor de ti,
tenho-te incondicional gratidão.
Fernando, teu filho mais novo
é dono do meu coração.
Que teus filhos continuassem unidos,
era o teu maior querer,
por mim, continuará sempre assim
como homenagem à dócil mulher!
Ao meu sogro:
Homem com idade de menino
a árduas tarefas cedo obrigaram
em tempos de grande miséria
sem pai seus anos passaram
apaixonado pela sua santa mulher
as bodas de ouro festejou
nunca vi tristeza tão grande
quando a sua Rosa murchou
conquistava uma batalha por hora
mas pelo excessivo cansaço sucumbiu
agora longe dos nossos olhos
nos nossos corações desde que partiu
Ao meu Padrinho Joaquim:
trabalhaste arduamente no teu país, mas
era pouco e, em dobro trabalhaste na França
com tempo para dar colo aos três rebentos
desejaste uma reforma coroada de bonança
deparaste com muitas pedras na tua caminhada
e todas elas arrecadaste, grandes e pequenas
uma a uma construíste um bonito império
com a força dos gladiadores nas arenas
a infelicidade à tua reforma bateu sem consentimento
como Cristo no seu Calvário sucumbiste
de coroa de espinhos nos deixaste
na eternidade de dias tão tristes
de alma e coração amaste a minha madrinha
homem que a Deus honraste solenemente
os cravos são os teus anjos no paraíso
os brancos, de amor puro, intrinsecamente