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Tempos felizes
Tempos felizes

Tenho saudades da minha meninice. Tenho saudades de brincar na rua à vontade. Tenho saudades de jogar ao pião e ao rapa. Tenho saudades de jogar à macaca e ao elástico. Tenho saudades de saltar à corda, fazer o jogo dos sacos com os amigos e amigas, e fazer o que nos apetecia sem correr riscos. Lembro-me do meu irmão jogar à bola com os amigos, e a bola ser feita com meias velhas que entre eles conseguiam. O campo de futebol era a rua mais recatada. Lembro-me de chegarmos a casa com as calças rotas nos joelhos e a mãe, sempre a ralhar, mas a ponteá-las porque faziam falta para levar para a escola. Lembro-me das bonecas para as meninas brincarem serem feitas com sobras de tecido das saias da avó e dos vestidos da mãe, ou até mesmo feitas com trapos que a avó tinha lá por casa. Lembro-me das tardes a tomar banho no riacho de Malta porque ir até à praia era um luxo. Lembro-me dos sons dos animais vindos de todos os cantos porque também eram livres. Lembro-me dos pacotes de bolacha baunilha que perfumavam a nossa sacola de ir para a escola, comprados na feira da Lameira. Lembro-me de comer bolacha Maria com manteiga e ser um lanche digno dos Deuses. Lembro-me que fazer a comunhão, além de se temer o senhor padre porque tínhamos de saber as orações na ponta da língua, também era alegria por se estrear uma roupa nova parecida com a de uma rainha. Lembro-me de não haver domingo sem missa. Lembro-me dos Carnavais muito frios, mas o estado do tempo não impedia que toda a gente saísse à rua e jogassem ao vento fitas de papel às cores. Lembro-me das Páscoas com o folar doce e o cabrito assado à mesa, feitos no fogão a lenha. Lembro-me que todos os verões eram coroados pela festa da senhora dos Caminhos. Lembro-me que não havia halloween. Lembro-me que os natais eram muito frios e chuvosos e sobretudo família. Lembro-me que havia telefone só nos cafés. Lembro-me que víamos televisão a preto e branco só depois de terminar os trabalhos de casa. Lembro-me de dar uma folha de alface ao grilo todas as manhãs antes de ir para a escola. Lembro-me que se conversava cara a cara. Lembro-me ermos genuínos.  Lembro-me de respeitar o nosso senhor mais o primeiro ministro ao entar na escola. Sabíamos brincar, respeitar os mais velhos e com um largo sorriso nos lábios ir para a escola a cheirar a fumo. Lembro-me que eram tempos felizes, amigos e cúmplices. Tínhamos tão pouco e o pouco era tanto. 

 

A televisão a preto e branco chegou a Portugal com um impacto como se fosse um tesouro dentro do sapato no dia de consoada. Em pouco tempo foi apelidada de "caixinha mágica". Tempos bem passados ao lado da família. Inesquecível o sinal de fim de emissão da RTP, depois do Hino Nacional, a chamada "mira técnica".

 

 

O delicioso lanche de muitos, bolacha Maria com manteiga. Ainda me cresce água na boca só de pensar.

 

 

As míticas pastilhas elásticas, gorila ou piratas, faziam com que as mães conseguissem minutos de sossego com a promessa de que o Pai trazia uma para cada um dos filhos.

 

Os chapéus de chuva da Regina que perduram de geração em geração.

 

Muitos sorrisos fizeram os cigarrinhos de chocolate, os rapazes pensavam que já eram crescidos.

 

A delícia das tardes de verão.

 

O Sumol já não é como antigamente, o meu preferido era o de laranja, com aqueles bocadinhos de fruta a boiar. Tão bom!

 

Um livro só para quem tinha posses, chamavam-lhe "A Bíblia da Cozinha". Hoje, são raridades que se encontram nas feiras de velharias e a custo elevado.

 

 

Brincadeiras de campo, "ir aos grilos". Na minha terra natal, os rapazes corriam da escola para o campo para apanharem um grilo. Era engraçado dar-lhes a folha de alface - selada - como diziam os mais velhos.

 

Os rádios pareciam mausoléus. Hoje, têm muita procura nas velharias e com preços exageradamente elevados.

 

Ainda perdura, mas camuflada por marcas mais publicitadas. Quando era menina, a pasta medicinal Couto, era a dona dos nossos sorrisos.

 

 

Recordações da escola primária. Tínhamos coisas modestas, mas que nos faziam felizes. Nunca imaginamos que viria a tecnologia modificar os nossos hábitos, principalmente, a união. Infelizmente, caminhamos para um futuro egocentrista.

 

Antigamente, a sebenta era o nosso caderno. Muitas vezes as vi voar da secretária da professora Mariazinha às nossas carteiras, principalmente, quando eram corrigidos os ditados.

 

 

 

 

Telenovelas e programas de entretenimento que nos rasgavam as barrigas.

 

 

Desenhos animados que nos faziam crescer - lições de vida ou alegres. Nada de violência.

 

Ter um giradiscos é como andar de bicicleta. E não há som como aquele que vem de uma agulha sobre um vinil.