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O templo das sandes de presunto
O templo das sandes de presunto

Badalhoca é um nome porco, nojento, deveras repugnante. Mas no dia 11 de janeiro fui lanchar à Badalhoca, com os meus dois amores a convite do meu irmão, em Vila do Conde, numa sucursal da afamada tasca do Porto, com o mesmo nome. Todas as sucursais preservam este nome que, de tão invulgar para um lugar onde se come, até se torna engraçado porque de badalhoca nada tem, só mesmo o nome.

A tasca habita na antiga casa de jogos" Os Marretas", perdição dos saudosos anos oitenta, máquinas com sons retumbados e com muitas cores que cativavam os jovens quando havia um furo no horário escolar.

Adorei! Fiquei logo enamorada pela decoração, rústica, bem ao meu gosto. Trata-se de uma tasca à portuguesa com dois pisos. No piso inferior, onde se pede e paga o que pretendemos lanchar, somos acolhidos por um teto invulgar: na entrada, um jardim garrafal suspenso, garrafas de outros tempos, vazias mas repletas de boas recordações; na parte de serviço, ao balcão, onde dois empregados satisfazem os pedidos dos clientes, dezenas de presuntos supensos, provavelmente a origem do nome da tasca, uma vez que presuntos são pernas de porco, um animal que vive na pocilga, lugar porco, badalhoco.

Após a difícil escolha do petisco para lanchar, e de carteira mais leve, subimos as escadas de acesso ao piso superior, com o odor apetitoso do lanche a entrar pelas narinas. As mesas prenderam-se aos meus olhos de tal forma que não consegui eleger a mais bonita: uma é a raíz de uma árvore entroncada e com formas delicadamente trabalhadas pela natureza, com um tampo também em madeira, com a dimensão de um tronco corpulento; outra nasceu de uma dorna rodeada de cadeirões germinados de pipas sem uso; uma outra é um casco de uma canoa, ícone vilacondense, e faz daquela sala um rio de criativadade. Uma sala tão rústica que até parece um pequeno museu. No alto, à volta da sala, encontra-se uma exposição de barcos iluminados pelos peculiares candeendeiros: vidros de garrafão de cinco litros sem fundo que me fizeram lembrar as velas suspensas da sala de jantar de Hogwarts, e funis de latão que parecem chapéus japoneses, ambos aritmeticamente suspensos. Ao fundo da sala mora um louceiro antigo, pintado a branco, igual a um que eu tenho guardado, mas a precisar de restauro - e lembrei-me desse pormenor e da pessoa que teve a gentileza de satisfazer a minha vontade de ter um louceiro antigo. E bateu uma enorme saudade.  Em frente às escadas, suspensa, jaz uma linda mota antiga, igual a muitas motas que se vêm nos filmes antigos. Nas paredes de pedra, do piso inferior e superior, estão ordenamente expostas pequenas esculturas de granito, com linhas modernas, mas com afeições de outrora. Gostei especialmente da escultura do afamado menino da Bélgica que está sempre a fazer xixi - o Menneken Pis - e lembrei-me da viagem a esse país fantástico. Reparei que a fé dos portugueses, mesmo numa tasca, é profunda. Em quase todas as esculturas depositam moedas, como de preces se tratasse. Como brinde a toda esta beleza bem à portuguesa bebe-se o peculiar vinho Espadal, um verdadeiro chamariz à casa pelo seu bom sabor e frescura. Este vinho é servido em canecas brancas de barro geladas, que o torna especialmente apetecível, um vinho gostoso, mas perigoso - ficamos com as bochechas da cara rosadinhas.

A tasca da Badalhoca, tem as melhores sandes de presunto das redondezas. Para os que não apreciam presunto, como eu, tem outros petiscos como sandes de omeleta de enchidos e sandes de polvo. 

Até breve.